16 de maio de 2010

CLASSIFICAÇÃO DA LABIRINTITE (OTITE INTERNA)

A labirintite é um processo inflamatório da orelha interna que pode envolver um ou mais compartimentos do labirinto membranoso. Os sintomas podem ser insidiosos, transitórios ou permanentes, comprometendo a função coclear e vestibular (surdez neurossensorial, vertigem, etc).
Este processo inflamatório pode ser pós-traumático ou não, infectado (viral, bacteriano, fúngico, protozoário) ou não infectado (autoimune - geralmente bilateral).

Em relação à ORIGEM do processo inflamatório, as labirintites podem ser divididas em:

TIMPANOGÊNICA
Invasão à partir da orelha média através da janela redonda, ocasionalmente pode ocorrer através da janela oval ou de fístulas labirínticas (bacteria, agente farmacológico, toxina). Unilateral.

MENINGOGÊNICA
Através do conduto auditivo interno ou aqueduto coclear (mais comum em crianças). Bilateral.

HEMATOGÊNICA
Forma menos comum. Geralmente viral (Sarampo, Caxumba), mas pode também ser bacteriana (BK, Sífiles).


HISTOLOGICAMENTE as labirintites podem ser divididas em:

SEROSA
PURULENTA
FIBROSA

OSSIFICANTE


RADIOLOGICAMENTE as labirintites podem ser divididas em:

AGUDA
FIBROSA
OSSIFICANTE

A fase aguda envolve os tipos histológicos "serosa" e "purulenta", uma vez que não é possível distinguir entre pus e endolinfa/perilinfa. Eventualmente, a alta celularidade da endolinfa pode levar ao aumento de sinal do labirinto na sequência T1 pré-contraste, mas nesta primeira fase radiológica da labirintite destaca-se o intenso realce pós-contraste na sequência T1, enquanto na sequência T2 e na TC não se observam alterações.

A fase fibrosa, como já diz o próprio nome, corresponde ao segundo estágio do processo inflamatório, quando tecido fibroso passa a preencher as estruturas do labirinto membranoso. Neste momento, o hipersinal em T2 - resultante do conteúdo de natureza líquida do labirinto - torna-se moderadamente reduzido, assim como o realce na sequência T1 pós-gadolínio. Tais achados de imagem indicam que o processo inflamatório agudo começa a ceder espaço ao surgimento de tecido fibroso de reparação.

A fase ossificante da labirintite corresponde ao estágio de ossificação dos debris inflamatórios que passam a ocupar o espaço antes preenchido por perilinfa e endolinfa (labirinto membranoso). Nesta fase, a TC costuma evidenciar uma "ausência de labirinto", que na verdade é a perda de contraste entre o labirinto (agora ossificado) e o osso adjacente. Em outras palavras: você tem dificuldade para ver o labirinto (ele fica branco igual ao osso). Na sequência T2, caracteriza-se a marcada ausência de hipersinal do labirinto membranoso (não tem mais linfa e agora o sinal é de osso, isto é, hipoitenso), enquanto que na fase pós-gadolínio da sequência T1 não mais se observa realce. O local mais comum para fibrose e ossificação do labirinto é na escala timpânica da espira basal da cóclea, próximo à janela redonda (Geralmente progride da base para o ápice coclear).


Vale destacar que os estágios radiológicos podem coexistir entre si, isto é, achados de labirintite fibrosa de um lado e ossificante do outro, por exemplo.

Na labirintite ossificante, um diagnóstico diferencial por vezes confundido é a displasia ótica congênita, por exemplo. Uma boa dica para diferenciar estas duas entidades é: na labirintite ossificante não existe redução volumétrica da cápsula ótica da orelha interna, enquanto que nas malformações congênitas geralmente o volume da cápsula ótica encontra-se algo reduzido. Boa dica é observar a convexidade do promotório no interior da orelha média. Quando o promotório é relativamente plano ou chega a ser côncavo, significa que provavelmente trata-se de uma displasia ótica congênita e não labirintite ossificante.

Coronal Janela de CAI ao nível da cóclea, esta exibe forma e densidade normais (seta grande). Aspecto habitual da cápsula ótica com sua projeção para a cavidade da orelha média, que forma uma convexidade característica (Linha pontilhada). Na displasia ótica esta linha tende a se tornar plana ou até mesmo côncava em relação à orelha média. Por outro lado, na labirintite ossificante costuma-se ter dificuldade para visualizar a cóclea, enquanto a convexidade da cápsula ótica mantem-se preservada. A seta pequena corresponde ao segmento labiríntico do nervo facial.

Causas para labirintite ossificante:
  • LABIRINTITE BACTERIANA SUPURATIVA (CAUSA MAIS COMUM)
  • LABIRINTITE VIRAL
  • OTOESCLEROSE
  • TRAUMA
  • DOENÇA AUTO-IMUNE
  • LEUCEMIA
  • OCLUSÃO DA ARTÉRIA LABIRÍNTICA
  • NEOPLASIA DO OSSO TEMPORAL

Outra questão que deve sempre ser lembrada é a hipótese de hemorragia intralabiríntica. Neste caso observa-se alto sinal do labirinto na sequência T1 sem contraste. Eis então que surge a pergunta: labirintite pode sangrar? Siiiiimmm, pode sangar, mas não é comum. Quando vemos hemorragia dentro do labirinto, ANTES de labirintite, temos que pensar em:
  • COAGULOPATIA
  • NEOPLASIA
  • TRAUMA
A labirintite bacteriana, na maioria dos casos timpanogênica, está mais frequentemente relacionada à reação contra endotoxinas bacterianas do que à invasão bacteriana propriamente dita no espaço intralabiríntico.

A labirintite viral subclínica é causa de hidrópsia endolinfática.

O herpes zoster oticus, ou Síndrome de Ramsay-Hunt, resulta da reativação do virus latente no gânglio geniculado do nervo facial. Além dos sinais e sintomas de dor periauricular, vesículas e paralisia do facial, costuma-se haver envolvimento do labirinto (perda auditiva e vertigem) que se manifesta no exame de imagem pelo realce dos canais semicirculares associado ao realce do nervo facial.

Labirintites auto-imunes costumam ser agudas, com surdez neurossensorial que responde aos imunossupressores. Existe hidrópsia endolinfáfica e proliferação osteofibrosa focal e difusa no labirinto.
Entre as doenças auto-imunes relacionadas à labirintite, estão:
  • POLIARTERITE NODOSA
  • GRANULOMATOSE DE WEGENER
  • LES
  • ARTRITE REUMATÓIDE
  • SÍNDROME DE COGAN
Existe ótima correlação entre realce na RM (fase aguda) e a presença de sintomas clínicos.

Realce labiríntico no T1 pós-gadolínio também pode ser SCHWANOMA, este é mais comumente visto no vestíbulo e costuma ter realce mais intenso que o observado nas labirintites.

2 comentários:

  1. Parabens Marcinho pela postagem
    Carol

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  2. Excelente revisão Marcinho. Dava pra colocar o caso que vimos hoje no HA.
    Abraço,
    João

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